Meu Bloco na rua


Odeio joinhas. Frases sem pontuação, excesso de abreviações, correntes, áudios sem fim. O surgimento dos aplicativos de mensagem criou um terreno onde vale tudo no relacionamento  interpessoal, até mesmo um chute nas partes baixas. "Pachecão, você é muito chato". Sou  mesmo, caros leitores. Eu procuro sempre me dedicar nas mensagens que troco com minha  família, amigos e conhecidos para receber apenas um joinha como resposta. Isso pra mim soa descaso, desdém. "Ih, é o George. Vou mandar só um joinha pra ele e voltar a fazer as coisas mais importantes que sempre tenho a fazer".
Qual é, minha gente, meus amigos, minhas amigas, minhas queridas crianças? Quem é que responde pessoalmente um bom dia com o braço erguido e um sinal de joia? Ninguém. E porque  na rede social tem que ser assim? Ou então sem a pontuação? Não dá pra saber o que meu interlocutor está sentindo, se está feliz, chateado, cansado... é pra isso que serve a pontuação, sabiam? Se não fosse para usá-la, o teclado no celular não continha esses sinais, não é mesmo? Eu já falei sobre isso, mas não custa repetir. O negócio é que a comunicação via aplicativos de  mensagens reflete a fragilidade das relações humanas na atualidade. Ninguém respeita  ninguém. Os interlocutores passam a mão na bunda e mijam na rua. As redes sociais se tornaram um vale tudo, um carnaval.
Ah, caros leitores! Cheguei ao ponto onde queria chegar. Não sei se me entendem, mas tento  explicar-me. Carnaval virou sinônimo de ausência de regras. A melhor desculpa do brasileiro para justificar a falta de atenção, a insensibilidade, a bagunça, o desserviço... Nada funciona, repartições públicas, clínicas... nem lugar pra estacionar a gente encontra. É um pé no saco. E tudo em nome do carnaval, quando "nada é verdade, tudo é permitido". Vejam, eu não sou contra a brincadeira e o descanso, mas nenhum serviço pode ser negligenciado por conta disso, qualquer que seja, nada justifica a falta de atenção e a má educação. Nada. O centro da cidade estava um caos, diversas ruas foram fechadas por conta das festividades na Alberto Braune. Daí eu me pergunto, caros leitores, em que outra situação dá-se tanta importância para o fechamento das vias? Dia das Mães, Páscoa? Fala sério. Enquanto eu aguardava o tráfego congestionado - dava até para escrever uma crônica esperando - uma turma de jovens passava pelas calçadas, cantarolando marchinhas centenárias; outros atravessavam as ruas sem aviso. Suspirei, ergui meu braço e fiz um joinha, pedindo passagem para o bloco do carrinho preto. Adivinhem? O motorista da vez cagou e andou pra mim. Viram? Ninguém se comunica por joinha.
Na verdade, devo estar ficando velho pra essas coisas, redes sociais, carnaval, gentileza, boa educação. Ou sempre fui velho. Ah, Pachecão, deixa a galera se comunicar por emojis, hieróglifos, grunhidos... deixa faltarem serviços, deixa o trânsito ficar uma merda. Deixa... é carnaval. É carnaval o ano inteiro nas redes sociais, nos relacionamentos, nos serviços prestados pelo governo.
Joinha pra vocês.

George dos Santos Pacheco
georgespacheco@outlook.com

Comentários

  1. Fantástico! Acredito que nunca li algo tão perfeito em relação a essa patacoada.

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