O ser humano é uma criatura carente, entediada e preguiçosa. É evidente que somos feitos de muito mais que isso, mas vejam bem, caros leitores, acompanhem meu raciocínio. A gente precisa de – e quer – muita atenção, desde os primeiros dias de vida. Os anos passam, e isso não muda. O carinho, o amor, o abraço gostoso… tudo isso compensa uma carência latente que incomoda como o ronco no estômago. E vamos trocando essas demonstrações de afeto entre nós, compensando um ao outro, porque nós mesmos não nos bastamos. Além de tudo isso, a carência gera a necessidade de elogios aos nossos trabalhos, às nossas produções e se, por um acaso do destino, não houver ninguém por perto para corroborar a qualidade do que sua mão pode fazer, você mesmo acaba se elogiando, comemorando um feito, uma realização. A euforia se espalha pelo corpo e mente! E percebam, estamos o tempo inteiro tentando saciar nossa carência original, inata, que na verdade é um misto de várias carências.
Da mesma forma é o tédio. Então vocês murmuram consigo mesmos: “Ah, Pachecão, agora você foi longe demais! Eu não sou nada disso.”. É claro que somos, não adianta brigar com o óbvio ululante. Acaso não se recordam dos homens das cavernas? Estavam lá à noite, observando a laje de granito, as sombras emitidas pela luz do fogo dançando para lá e para cá. Os caverninhas (uns seis para cada família, imaginem?) correndo sem parar, grunhindo, quebrando tudo… as mulheres das cavernas não aguentando mais, querendo contar a eles como foi o dia, e os santos sem conseguir dar atenção para todo mundo. Dia após dia, a mesmíssima coisa. Daí o tédio. Ora bolas, as crianças se distraem com esses desenhos de sombras nas paredes, por que não pintamos o nosso dia bem ali, contamos sobre nossas caçadas (de repente eu até minto um pouquinho para impressionar, digo que o Bisão era maior…)? E milênios se passaram e seguimos a mesma fórmula: produzimos arte porque o tédio incomoda, ainda mais se aliado a qualquer carência! Imaginem como o homem primitivo ficou todo bobo com o elogio da mulher sobre seus desenhos e suas peripécias diárias!
Mas eu também disse que o ser humano é preguiçoso. E como somos! Ora, um texto digitado assim é bem mais prático do que à pena, não é? A invenção das máquinas de escrever, do computador, dos veículos, ferramentas, etc, etc… tudo isso é produto da preguiça de fazer o que quer que seja de uma maneira considerada mais trabalhosa – e daí entra a subjetividade de tudo: quem define quão trabalhoso, quão entendiante e quão importante é a atenção que precisa ser recebida, somos nós, mais ninguém.
Mas estou me perdendo no acessório e esquecendo do essencial, como diria o bom e velho Nelson Rodrigues. O que queria dizer – se é que desejava dizer alguma coisa – é que somos movidos basicamente por esses três sentimentos, mas vejam, a subjetividade e a personalidade de cada um, vez em quando, faz-nos criar exageros. E, agindo exageradamente, erramos, magoamos, ferimos. O camarada que se sente carente de afeto pode sufocar o parceiro com ciúmes, pode sufocar a si mesmo com insegurança e cobranças desnecessárias; o outro sente necessidade de produzir o que quer que seja o tempo todo, está sempre entediado, além de produzir para conseguir um reconhecimento que nem sempre vai acontecer; o homem moderno não se levanta mais do sofá para trocar os canais da TV, para digitar mensagens, não caminha um quarteirão a pé, não lava suas roupas (porque provavelmente há uma máquina para lhe poupar o trabalho). E tudo isso vai, mais cedo ou mais tarde, nos provocar algum dano. Podem acreditar.
O fato é que… já nem me lembro mais porque comecei a escrever esta crônica. Talvez buscasse um elogio, talvez estivesse entendiado ou com preguiça de falar isso tudo e, de repente, precisar repetir para outro ouvinte, e para outro, e para outro… Vai saber.
George dos Santos Pacheco
georgespacheco@outlook.com
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