Alô ouvintes da minha, da sua, da nossa Rádio Pachecão FM, operando em ondas tropicais desde 1981! No quadro “Cale a boca, Pachecão!” de hoje, vamos dar continuidade ao assunto da voga. Já falei não uma vez, sobre os diversos medos que tive – e a conjugação do verbo explico mais à frente – medo da morte, medo de altura, medo da solidão, medo de me frustrar e frustrar os outros e blá blá blá. Um monte de medos. E quem não teve um ou outro, pelo menos em alguma situação da vida? Uma criança tem medo do escuro, mas com certeza o supera ao longo dos anos. É natural. Se queremos ser pessoas normais, seguras, felizes e em paz consigo mesmos, precisamos enfrentá-los, quando crianças ou jovens, maduros ou idosos. Não tem jeito. A diferença vai ser apenas o tempo que perdemos convivendo com esses temores.
Dentre os que mais me atormentaram foi o medo do esquecimento. Como assim? Não, não é que eu tive medo de esquecer as coisas, tive medo de ser esquecido. Explico-me. Depois que eu me for, eu serei apenas uma lembrança, um retrato numa estante – se é que ainda vão utilizar esses objetos dessa maneira. Meus filhos se lembrarão de mim? Eu espero que sim, não é? Meus netos? Também creio que sim. Bisnetos? Talvez. Tataranetos? Possivelmente, quase certo que não. E aí, puf! Fim, fim mesmo, escafedemo-nos como se nunca tivéssemos existido de fato. Mas e daí, não é? Todos seremos esquecidos algum dia. Por que sofrer por isso (visto que temer é sofrer pelo medo)?
E vamos mais adiante. Por que sofrer pela possibilidade da morte, se qualquer dia desses, todos nós, sem exceção, iremos bater as botas? Por que sofrer pela altura, se ela está aí, e vamos encará-la, em menor ou maior grau, muitas vezes na vida? Porque sofrer pela possibilidade da solidão, se em muitos momentos da vida, vamos sim, estar sós – e precisamos ser (não estar) maduros para tudo isso?
O medo sempre impõe uma dificuldade. O mar, veja só, impõe uma barreira entre mim e ele. E essa barreira me obriga a nadar para superá-lo. Pronto, venci o medo e dele criei um bom produto. É como andar de bicicleta. Claro que dá medo, mas se eu quero superar essa barreira, preciso estar preparado para ralar meu joelho de vez em quando. A gente “rala” nossos joelhos toda vez que enfrentamos nossos medos e desafios diários, mas faz parte do processo.
Mas vá lá, Pachecão, o que falar da conjugação do verbo?
Terráqueos, é evidente que eu ainda não superei todos os meus medos. Só que o primeiro passo para vencê-los é fazê-los (os medos) acreditarem que já não me afetam. Já ouviram falar que “palavra tem poder"? Certamente devem ter ouvido falar sobre um campo de estudo chamado neurolinguística também. Por isso, lá no primeiro parágrafo está grafado “os diversos medos que tive”, sim, no passado, para que eu ouça assim e passe a me relacionar com eles dessa maneira. Afinal de contas, é lá que eles devem estar, a partir de agora e de uma vez por todas: no passado. Assim a gente percebe que, ao fim e ao cabo, os monstros não eram tão grandes como imaginávamos e que somos muito mais fortes que eles.
O medo do esquecimento talvez tenha me impulsionado a escrever e, de alguma maneira, deixar algo por aí que ultrapasse as gerações. De repente meus livros vão estar lá numa estante sem fotos, com as folhas amareladas e alguém dirá “sabia que meu tataravô era escritor?”. E veja só, eu acabei criando algo bom por conta do medo (!) – e isso pode ser aplicado a qualquer um deles, a qualquer dificuldade que venhamos a ter que enfrentar, mesmo que para isso a gente rale um pouco os joelhos. É difícil sim, jamais disse o contrário. Mas é como andar de bicicleta. Depois que se aprende, não se esquece nunca mais.
George dos Santos Pacheco
georgespacheco@outlook.com

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