Há muito que as mulheres vêm
lutando pelo fim das desigualdades e humilhações. Um dos fatos que marcou a
luta feminina, no Brasil, aconteceu em 1928 quando a escritora, advogada e
feminista mineira, Mietta Santiago, percebeu que a proibição ao voto feminino
contrariava a Constituição Brasileira de 1891 (então em vigor), em seu artigo
70. O artigo definia como eleitores, "os cidadãos maiores de 21 anos que
se alistarem na forma da lei” sem menção alguma a sexo. Assim, Mietta impetrou
um mandado de segurança, obtendo deferimento que lhe permitiu que votasse em si
mesma para um mandato de deputada federal. Mietta se tornou a primeira mulher a
exercer plenamente seus direitos políticos e ainda se tornou mote do poema de Drummond
"Mulher Eleitora”.
Mas ela não é a única mulher que
se destaca na literatura brasileira. Aliás, o século XX foi um divisor de águas
no surgimento das grandes escritoras, graças aos movimentos feministas do
início do século e do feito de Mietta Santiago.
Cora Coralina nasceu Ana Lins dos
Guimarães Peixoto Bretãs. Foi poetisa e contista, e apesar de escrever desde
muito jovem, publicou seu primeiro livro apenas aos 76 anos. Ficou conhecida
por seu jeito simples, traduzido nos textos que expunham o cotidiano e a vida
humilde do interior.
"O
que vale na vida não é o ponto de partida e sim a caminhada. Caminhando e
semeando, no fim terás o que colher.” Cora Coralina.
Rachel de Queiroz foi a primeira
mulher a ingressar na Academia Brasileira de Letras, em 1977, e também a
primeira a ganhar o Prêmio Camões, instituído pelos governos do Brasil e de
Portugal a fim de premiar autores que tenham contribuído para o enriquecimento
do patrimônio literário e cultural da língua portuguesa. Os livros de Rachel de
Queiroz denunciam a realidade social vivida no Nordeste brasileiro. Ganhou
grande repercussão com o romance "O Quinze”, principalmente no Rio de
Janeiro e em São Paulo.
Nélida Piñon ocupa uma cadeira na
ABL desde 1989 e foi a primeira mulher a presidi-la, entre 1996 e 1997.
Publicou seu primeiro livro em 1961, o romance "Guia-mapa de Gabriel
Arcanjo”. Seu extenso trabalho, entre contos e ensaios, foi traduzido para
diversas línguas e faz parte de antologias brasileiras.
Também fizeram parte da Academia
Brasileira de Letras as escritoras Lygia Fagundes Telles, conhecida por sua
luta contra o regime militar no Brasil, evidente em sua obra "As Meninas”,
de 1976; Zélia Gattai, que ocupou a cadeira do marido, Jorge Amado; e Ana Maria
Machado, famosa pela obra infantojuvenil, tendo seus mais de 100 livros
traduzidos para mais de 20 países.
É
impossível falar de literatura brasileira sem falar de nossas prestigiadas
escritoras, como é impossível falar de todas as suas conquistas sem mencionar
as Miettas, Cecílias, Hildas e Clarices. Sem elas, e tantas outras, com toda a
certeza o Brasil não seria o que é hoje, tampouco nossa literatura.
George dos Santos Pacheco
* Publicado na A Voz da Serra, em 06/003/2015.
Comentários
Postar um comentário