Alguns infinitos são maiores que outros. Assim também são os livros,
assim também é “A Culpa é das Estrelas” (John Green, Intrínseca, 288
pág.). Lançado em 2012, o livro vendeu cerca de 10 milhões de cópias no
mundo (18 mil exemplares somente no Brasil) tendo sido traduzido para
46 idiomas. Para coroar o sucesso do livro, foi lançada em 5 de junho
sua adaptação para o cinema, com nomes de peso no elenco, como Laura
Dern, William Dafoe, e os jovens Shailene Woodley e Ansel Elgort.
O livro narra a história de Hazel, que trava uma batalha contra o
câncer, há nada menos que três anos, o que lhe impôs uma série de
limitações a uma vida normal, afastando-a da escola e dos amigos,
“efeitos colaterais” de quem está morrendo.
Diagnosticada com depressão, Hazel é incentivada a frequentar um
grupo de apoio para jovens e crianças com câncer e lá ela conhece o
divertido Augustus Waters, sobrevivente de um osteossarcoma que lhe
custou uma das pernas. Apesar de viverem momentos diferentes no
enfrentamento da doença, rapidamente se identificam e compartilham
alegrias e tristezas de suas batalhas individuais contra si mesmos.
O trabalho de John Green é impecável, emocionante, divertido e
triste ao mesmo tempo. Seus personagens são complexos, bem desenvolvidos
e vivem uma história intensa, em que é retratado o cotidiano de jovens
com câncer, seus dramas e o de suas famílias e amigos, seus medos e
angústias, e se destaca justamente por não ser apenas mais um livro
sobre superação, mas por tratar de um assunto tão delicado quanto o
câncer em jovens (dez mil crianças e adolescentes morrem de câncer
anualmente no Brasil, a maior causa de morte nesse grupo) de uma forma
simples e de certa maneira até sarcástica.
O personagem de Shailene, Hazel Grace, é inspirado na jovem
Esther Grace, vítima do câncer, que Green conheceu em um canal do You
Tube, em que ela relatava sua experiência com a doença. Apesar disso, o
livro não é a história de Esther, e o autor deixa isso bem claro ao
citar a obra do belga René Magritte (1898-1967) que entre 1928 e 1929
produziu uma série de pinturas intitulada A Traição das Imagens. A mais
famosa delas, Isto não é um Cachimbo (Ceci n’est pas une Pipe), causou
muita polêmica justamente por mostrar um cachimbo e afirmar que não se
trata disso. Ou seja, não temos o objeto, mas uma imagem dele, uma
representação da realidade.
John Green é vlogger, tendo já trabalhado como assistente de
publicação e editor de produção. É autor também de “Will e Will, Um
nome, Um Destino”; “Cidades de Papel“; “O Teorema Katherine”; “Deixe a
Neve Cair”, (com Maureen Johnson e Lauren Myracle); e “Quem É Você,
Alasca?”, (a ser lançado).
“A Culpa é das Estrelas” cumpre bem o papel da literatura, nos
levando à reflexão sobre a grandeza da vida, fazendo-nos observá-la com
maior serenidade. “A dor é para ser sentida”, e é um efeito colateral de
estar vivo; emocionar-se é um efeito da leitura desse livro brilhante.
Já não importa o tempo ou o fim, “o esquecimento é inevitável”. Importa a
oportunidade de momentos terem sido vividos, independentemente de seu
prazo: alguns infinitos são maiores que outros.
George dos Santos Pacheco
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