Isto não é um cachimbo


Estereótipo dos estereótipos, quase tudo tem esterótipo.

É aquela marca, que passa a ser senso comum a qualquer coisa, identificando-a – mas que não deveria identificar numa generalização. Cada caso é um caso. E com o escritor não é diferente. Frequentemente são representados em filmes como intelectuais, ou homens jovens com problemas, fumantes… influência da história de muitos que exerceram a profissão (escritor também tem família, meu camarada!). É o caso do personagem de Kevin Costner, em “A Possuída”, de Ben Stiller, em “Duplex”, do José Mayer, em “Presença de Anita”, por exemplo.

O uso do cachimbo, também é um esterótipo do escritor. E o amigo aqui sempre foi curioso de como seria fumar cachimbo – apesar de nunca ter sido fumante. Então, esses dias, me decidi e comprei um cachimbo e um pacote de fumo aromatizado em café.

Há que se tomar o maior cuidado para pitá-lo, visto que se apaga facilmente durante a aspiração da fumaça. O fumo, a ser colocado no fornilho, tem um cheiro agradável cru, mas caro leitor, queimado e inalado… o gosto é fortíssimo na língua! Tossi umas três ou quatro vezes durante minha incrível jornada de fumante de cachimbo – que durou apenas uma pitada, vale ressaltar. Me desfiz do fumo, e guardei apenas o cachimbo como recordação do dia em que me contaminei por um estereótipo.

Até porque, isto não é um cachimbo.

Foi o que disse o famoso pintor belga René Magritte, no quadro “A traição das imagens”. A obra era a pintura de um cachimbo apagado, com a inscrição “Ceci n'est pas une pipe” (Isto não é um cachimbo). E não era mesmo, assim como essa crônica. A obra de Magritte explicava todo trabalho artístico e quebrava o esterótipo de que a arte, de tão realista, podia ser um objeto real. Não é.

Uma obra artística, um quadro, um livro… é uma representação da realidade, e não ela. Ora, então um sujeito poderia fumar o quadro do belga? Não, evidentemente. Qualquer trabalho artístico sofre influência da vida real, personagens são mesclas de diversas pessoas, acontecimentos podem ter ligação com eventos reais, mas não são reais, são representações. Então não podem ser levados ao pé da letra, ou serem criticados por serem fantasiosos demais. A arte não tem necessariamente compromisso com a realidade.

Assim como nem todos os escritores fumam; assim como rosa não é cor somente de meninas; assim como os homens choram e lavam a louça; assim como também há políticos honestos – por mais que duvidemos disso!

Mas isto não é uma crônica sobre estereótipos. Simplesmente, isto não é um cachimbo. 
George dos Santos Pacheco
georgespacheco@outlook.com

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