Ficamos órfãos, mais uma vez. Foi assim que me senti quando recebi a
notícia da morte de José Wilker, e também quando se foram Reginaldo
Rossi, Chico Anísio, e Canarinho. Wilker se foi, mas deixa profundas
marcas na cultura e teledramaturgia brasileira. Extremamente
polivalente, atuou como ator, diretor, narrador, apresentador e crítico
de cinema, tendo começado a carreira como locutor de rádio. Viveu
personagens marcantes na TV e no cinema, como Vadinho, de Dona Flor e
Seus Dois Maridos; Roque Duarte, da novela Roque Santeiro de 1985, e o
coronel Jesuíno Mendonça, no remake de 2012 da novela Gabriela, de Jorge
Amado. Inesquecível também é a sua narração na minissérie “A Vida como
ela é”, adaptação de diversos contos de Nelson Rodrigues.
Wilker morreu jovem, aos 66 anos de idade. Era um menino, assim
como Paulo Goulart, outro ícone da TV brasileira, que morreu aos 81.
Goulart também era dono de uma voz inconfundível, e da mesma forma que o
eterno Giovanni Improtta, também começou a carreira como locutor de
rádio. Aliás, isso era muito comum, tendo em vista a popularidade do
rádio e os primeiros passos da TV no Brasil. Pode se dizer, sem sombra
de dúvidas, que Goulart e Wilker fizeram parte de um time que formou a
televisão brasileira, ao mesmo tempo em que se formavam como
profissionais.
Já Renato Russo, foi ícone de uma geração inteira, aclamado como o
poeta do rock. Autor de letras extremamente politizadas – algumas
poéticas em certa medida – criticava profundamente a sociedade
brasileira, além de tratar de amor, esperança e amizade, dos sonhos e
dramas dos jovens. E por causa disso tudo, sua obra se tornou atemporal,
afinal juventude ainda sofre, o Brasil ainda precisa ser criticado, e
precisamos cada vez mais amar como se não houvesse amanhã, lembrar que o
caminho é um só... Renato continua, assim, conquistando admiração
dentro e fora do país, mesmo após sua morte precoce aos 36 anos. Se
estivesse vivo, completaria em 27 de março, 54 anos e para comemorar a
data foi lançado seu primeiro site oficial, www.renatorusso.com.br,
incorporando também o portal www.legiaourbana.com.br. Uma pena que a
homenagem esteja sendo motivo de problemas com os ex-integrantes da
banda, Marcelo Bonfá, e Dado Villa Lobos que alegam dificuldades em usar
livremente a marca Legião Urbana e criticam a forma como Giuliano
Manfredini (filho do Renato) administra seu legado.
Morreram jovens, Russo, Goulart e Wilker. Partiram da mesma forma
como chegaram, de repente, sem pedir licença. E quando eu digo que eles
se foram cedo demais, não é nenhum deboche ou demagogia, independente
de terem 36, 81 ou 66, acredito que teriam ainda muito que ensinar,
muito que emocionar. A admiração não é simplesmente pela obra que
deixaram, mas pelo exemplo. Todos eles serão lembrados pela dedicação ao
seu trabalho, eles amavam o que faziam, e quando se põe o amor à frente
de tudo, o resultado só pode ser bom.
A impressão que eu tenho é que os nossos ícones estão acabando,
sem peças de reposição. Esses caras eram o norte, a referência no que
faziam e... quem fica? Quem são os novos “Wilker”, “Goulart” e “Russo”?
Mas se pelo menos eles não deixaram substitutos, deixaram a receita:
“meu filho, é assim que se faz...”.
George dos Santos Pacheco
* Publicado na Revista Êxito Rio, em 10/04/2014.
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