Apesar de o termo ser um slogan das campanhas ufanistas do governo
militar brasileiro para conquistar simpatia da população, que
influenciaram mais de uma geração de brasileiros pela sua veiculação em
todos os meios de comunicação (essa confusão de patriotismo e futebol
surgiu nessa época), ele cabe perfeitamente em nossa discussão.
Em tempos em que a corrupção salta aos olhos, será que amamos nosso país, ou já o abandonamos mesmo sem sair dessas terras?
O individualismo e consumismo são incentivados a todo o momento,
por todos os meios de comunicação, seja diretamente pela publicidade, ou
através dos programas exibidos. E no que estamos nos tornando? “Nessa
terra de gigantes, que trocam vidas por diamantes, todo mundo é uma
ilha, a milhas e milhas de qualquer lugar”, já disseram há mais de
trinta anos certos engenheiros. Era um retrato da sociedade, ou uma
previsão do futuro?
Veja, caro amigo, as manifestações individualistas surgem a todo o
momento, dentro de nossas casas, no dia a dia das cidades, em todo o
lugar. No trânsito, é comum os pedestres invadirem a faixa, para forçar
sua passagem, pouco importando se os carros vão precisar parar no meio
de um cruzamento, atrapalhando nosso já tão conturbado trânsito de cada
dia, salve, salve. E o mesmo acontece com o motorista, que muitas vezes
ignora o pedestre em momentos em que ele podia parar o carro e fazer a
gentileza. Assim administramos o caos: nossos lemas são “não é problema
meu”, “vou dar meu jeitinho aqui”, “que seja pelo menos eu”...
Amigo leitor, você pode até achar que isso tudo é um monte de
bobagem, que os homens sempre foram assim, etc., mas estamos sendo
conduzidos, manipulados como marionetes em cordéis. O individualismo não
é uma característica da raça humana, somos seres sociais. Mas é
interessante que continuemos assim. Quando nos chegam notícias de uma
mãe que acorrenta o filho por causa do consumo de drogas, ficamos
estarrecidos, mas o estupor logo passa, não é seu filho, aquilo não
aconteceu em sua casa. Quando um grupo de jovens, inclusive uma mulher
grávida, são atropelados e mortos por um motorista bêbado, “meu Deus, em
que mundo nós estamos?”, mas pouco tempo depois já esquecemos (até
porque a notícia em seguida fala sobre futebol). Não era sua mulher, não
era seu filho. E em fevereiro tem carnaval.
Ou então, quando políticos aumentam absurdamente seu próprio
salário, quando médicos se corrompem para negociar medicações com
empresas, quando instituições nacionais são assaltadas por um grupo de
executivos corruptos – com a suspeita de políticos envolvidos – ou
ainda, quando o próprio líder do governo surge na tela de sua TV LED 40"
Full HD, com conversor integrado, duas entradas HDMI e uma USB, e
anuncia medidas incômodas, o que um lote de eleitores fazem? Batem no
peito e dizem “ainda bem que eu não votei nesse cara!”.
Ora, então esse monte de problema só está valendo para quem votou no(a) dito(a) cujo(a)?
É claro que não.
O tráfico de drogas, o abuso com o consumo de álcool, os
problemas em hospitais e na segurança pública, não é problema de apenas
alguns, mas de todos. Só que fomos doutrinados a somente nos
incomodarmos quando sentimos em nossa própria pele. É isto o que nos
tornamos, a sociedade é uma selva de pedra, em que cada um busca salvar a
si mesmo ou sua própria família.
Você está fazendo alguma coisa para mudar isso?
Nada?
Você aconselha os jovens de seu círculo de amizades? Conversa com
os amigos sobre política? Faz parte de associação de moradores,
organiza manifestações pacíficas e abaixo assinados a fim de cobrar
soluções e melhores serviços do governo?
Não?
Você está bem, sua família não está passando diretamente por nenhum problema, não é mesmo?
Você não vai se desgastar por essas coisas. Não é problema seu.
Pois é... salve-se quem puder...
George dos Santos Pacheco
* Publicado na Revista Êxito Rio, em 20/02/2015.
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