– Rapaz, como é que você conseguiu fazer isso com a sua coluna? – perguntou o doutor, olhando por cima dos óculos para o papel.
– Não sei, doutor... – respondi seriamente. O documento era um
laudo de ressonância magnética. Tratava de algumas protusões discais,
abaulamento discal, nódulos de Schmorl, cistos nas cabeças femurais e
artrose na lombar e nos quadris. “Agora esse cara vai querer me empurrar
um monte de remédio”, pensei, após um muxoxo. As festas de fim de ano
se aproximando, como eu vou fazer para beber minhas cervejas?
– Cara, você é muito novo para ter isso tudo aqui. Apenas pelo
exame, sem relacionar com você, qualquer um que visse diria que essa
coluna é de um senhor de 65 anos.
Olha, vou confessar que isso não foi muito agradável de ouvir.
Mas e daí? Um monte de escritor famoso teve problemas de saúde. Castro
Alves, Casimiro de Abreu, e o inglês John Keats, por exemplo, tiveram
tuberculose. Lima Barreto foi internado duas vezes no hospício, com
problemas com alcoolismo. Err... tudo bem, os três primeiros morreram
muito antes dos 30 anos, Barreto aos 41.
E agora, José?
Para não morrer jovem, e viver bem, tenho que fazer um tratamento
multiprofissional com fisioterapeuta, reumatologista e inclusive
nutricionista, que é para não ficar acima do peso e não forçar a coluna.
Mas o problema é justamente com esse último profissional. De vez em
quando eu fujo da famigerada dieta e a verdade, meus amigos, é que estou
acima do peso. Levemente acima do peso, mas acima.
Atenta à minha desobediência – e à minha barriga proeminente –
fui intimado por Dona Maria e tive que entrar na linha. Só que nesse fim
de semana, fomos à casa da minha cunhada e a santa me fez o favor de
preparar pastéis. Pastéis, um dos meus pontos fracos! Assim, o id e o
ego subiram cada qual em um ombro e começaram a sussurrar:
– Relaxa, véi... hoje é sábado, você está liberado da dieta!
– Não faz isso não, cara, vai por tudo a perder?
– Eu vou comer pelo menos um...
– Come um de cada sabor!
– Está vendo aí, já está virando sacanagem!
– Você vai comer apenas dois. – arbitrou seriamente Dona Maria.
Eu queria mais um (de carne), mas ela foi irredutível, e eu tive que
acatar. Já pensou? Discutir por causa de um pastel? Minha cunhada até
tentou argumentar a meu favor, entretanto, minha mulher foi mais
convincente.
– Mas nem cerveja ele pode? – foi a réplica da irmã da Dona Maria.
– Não! – respondeu minha esposa.
– Sim! – respondi ao mesmo tempo em que ela.
– Ainda mais a cerveja, que engorda à beça! – comentou minha
sobrinha – que estava quietinha até então. E não podia ter continuado
quieta?
E agora, José?
– Opa, isso aí é mito! – defendi-me, levantando-me imediatamente
da cadeira, para riso geral. – É mito – insisti, com o dedo em riste –
eu já vi uma reportagem sobre isso! – concluí. Não comi o terceiro
pastel, nem bebi a cerveja, é verdade, mas ganhei tempo suficiente para
ter argumentos para defender a loira gelada. Uma recuada estratégica,
por assim dizer.
No dia seguinte, sentei-me na posição de lótus, com a máquina no
colo e invoquei o oráculo, uma prática muito apreciada por nossa
geração. Perguntei e em 0,15 segundos tive aproximadamente 249.000
resultados. Afinal de contas, cerveja engorda, ou não? O que descobri
foi que... talvez. Isso mesmo, querido leitor, talvez.
A cerveja tem carboidratos, açúcares e álcool, e logicamente tem
calorias, como qualquer alimento. Arroz e feijão engordam? Bife com
fritas engorda? Pão engorda? Engordam, claro que engordam, mas isso vai
depender da quantidade que você consumir e que seu organismo é capaz de
metabolizar. E com a cerveja acontece a mesma coisa, ora bolas!
Dependendo do tipo, um copo pode ter até 150 calorias, e como o álcool
não é absorvido pelo organismo, ele é o primeiro a ser queimado.
Resultado: tudo que você comer de tira-gosto vai ser armazenado,
aumentando a gordura corporal.
Então a cerveja é a vilã da minha dieta? Não é o que dizem uns
camaradas da Dinamarca que publicaram um estudo e publicado na revista
americana International Journal of Obesity. Segundo eles, a cerveja até
pode aumentar a circunferência do abdômen, mas quando se bebe mais de
cinco copos de cerveja, todos os dias da semana.
Pronto, agora eu tenho até argumento científico!
– Então, Dona Maria? Estou liberado pra cervejinha? – perguntei sorrindo e esfregando as mãos, cheio de expectativa.
– Está. Só não esquece o relaxante muscular que o médico receitou.
Putz! E agora José?
George dos Santos Pacheco
* Publicado na Revista Êxito Rio, em 28/12/2014.
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