A cultura negra na literatura brasileira

O Dia da Consciência Negra, foi instituído pela lei nº 12.519, /2011, celebrado em 20 de novembro . A data faz referência à morte de Zumbi, em 1695, por bandeirantes liderados por Domingos Jorge Velho. Zumbi era líder do Quilombo dos Palmares, situado entre Alagoas e Pernambuco, na região Nordeste do Brasil. 

Não há como negar a influência da cultura negra na história do Brasil, a miscigenação não ocorreu apenas no campo antropológico, mas também nas áreas social, econômica e política. Atualmente, já se pode falar em cultura afro-brasileira, tendo em vista que muitas representações surgiram da fusão do contato dos negros com os brancos europeus que já haviam se estabelecido em terras tupiniquins.

Na literatura, a cultura negra é frequentemente abordada e tem até escritor sendo acusado de racismo, mesmo após sua morte. Contudo, o ensino no Brasil se referencia, historicamente, na cultura europeia, “branqueia” nossos escritores negros, e consagrando, por outro lado, os personagens negros de autores brancos, ou seja, os negros pela ótica dos brancos. Atendendo aos anseios dos movimentos negros, em 2003 foi sancionada a Lei 10.639/03 (alterada pela Lei 11.645/08), que torna obrigatório o ensino da história e cultura afro-brasileira e africana em todas as escolas, públicas e particulares, do ensino fundamental até o ensino médio. 

Veremos a seguir, os principais escritores negros, e aqueles que de uma forma ou de outra abordaram a cultura negra e afro-brasileira em suas obras.

Castro Alves, o Poeta dos Escravos

O baiano Antônio Frederico de Castro Alves era branco, mas ficou conhecido pela alcunha de "Poeta dos Escravos", justamente por ter em suas poesias mais famosas o apelo pelo combate à escravidão. A cadeira nº 7 da Academia Brasileira de Letras é nominada em homenagem ao Poeta dos Escravos.

Cruz e Sousa, o Cisne Negro

João da Cruz e Sousa foi poeta, conhecido como Dante Negro ou Cisne Negro, um dos precursores do simbolismo (um movimento literário da poesia e das outras artes, marcado pelo subjetivismo, musicalidade e transcendentalismo) no Brasil. Era filho de escravos alforriados, tendo recebido a tutela e educação refinada de seu ex-senhor, o marechal Guilherme Xavier de Sousa - de quem adotou o nome de família, Sousa.

Joel Rufino dos Santos, o historiador

Joel Rufino dos Santos é historiador, professor e escritor. É um dos nomes de referência sobre cultura africana no país.  Além disso, já ganhou diversas vezes o Prêmio Jabuti de Literatura, o mais importante no país. Seu último trabalho é o romance “Claros sussurros de celestes ventos”, de 2012.

José do Patrocínio, o abolicionista

José Carlos do Patrocínio foi farmacêutico, jornalista, escritor, orador e ativista político, destacando-se como uma das figuras mais importantes dos movimentos Abolicionista e Republicano no país. Foi também idealizador da Guarda Negra, que era formada por negros e ex-escravos. Em artigos nos periódicos da época, José do Patrocínio usou os pseudônimos de "Justino Monteiro" ("A Notícia", 1905); "Notus Ferrão" ("Os Ferrões", 1875); "Prudhome" ("A Gazeta de Notícias", "A Cidade do Rio"). Seu principal trabalho foi o romance “Mota Coqueiro ou a Pena de Morte”, editado em 1877, no qual narra, de forma ficcional, a história do fazendeiro Manuel da Mota Coqueiro, apelidado de Fera de Macabu e condenado injustamente à morte em 1852. Uma curiosidade interessante nesta obra de Patrocínio é a existência do personagem Herculano, que em seu leito de morte, ao fim do romance, assume a autoria dos crimes de Macabu, o qual confundiu diversos historiadores e juristas, que em suas obras atribuíam-lhe a autoria dos crimes.

Por um país menos racista

Lima Barreto, o despojado

Afonso Henriques de Lima Barreto, melhor conhecido como Lima Barreto, foi jornalista e um dos mais importantes escritores brasileiros. Sua obra era profundamente marcada pela temática social, na qual privilegiou os pobres, os boêmios e os arruinados. Foi duramente criticado por escritores contemporâneos por seu estilo despojado e coloquial, que acabou influenciando os escritores modernistas.

Seu trabalho mais conhecido é o romance “Triste Fim de Policarpo Quaresma”, marco do pré-modernismo brasileiro e considerado por alguns o principal representante desse movimento. Foi levado a público pela primeira vez em folhetins, publicados, entre Agosto e Outubro de 1911, na edição da tarde do Jornal do Commercio do Rio de Janeiro.

Paulo Leminski, o polivalente

Paulo Leminski Filho foi escritor, poeta, crítico literário, tradutor e professor. Mestiço de pai polonês com mãe negra, Paulo Leminski é dono de uma extensa e relevante obra, trabalhando em poesias e tendo colaborado com letras de músicas, gravadas por Ney Matogrosso e Caetano Veloso.

Bernardo Guimarães, o reconhecido

Bernardo Guimarães foi romancista e poeta. Não era negro, mas ficou conhecido por ter escrito o livro “A Escrava Isaura” (escrito em plena campanha abolicionista), obtendo reconhecimento até mesmo pelo imperador do Brasil, Dom Pedro II. É o patrono da Cadeira nº 5 da Academia Brasileira de Letras.

Machado de Assis, o maior nome da literatura nacional

Machado de Assis é considerado como o maior nome da literatura nacional, escrevendo em praticamente todos os gêneros literários, sendo poeta, romancista, cronista, dramaturgo, contista, folhetinista, jornalista, e crítico literário. Foi co-fundador da Academia Brasileira de Letras, tendo sido seu primeiro presidente. Destacam-se em sua vasta obra, os romances “Ressurreição” (1872), “A Mão e a Luva” (1874), “Helena” (1876) – primeira fase (escola romântica) - e “Memórias Póstumas de Brás Cubas” (1881), “Quincas Borba” (1891), e “Dom Casmurro” (1899) – segunda fase (Realismo).

Jorge Amado, o nacionalista

Jorge Amado foi um dos mais famosos e traduzidos escritores brasileiros de todos os tempos. É o autor mais adaptado do cinema, do teatro e da televisão com os sucessos de crítica e público como “Dona Flor e Seus Dois Maridos”, “Tenda dos Milagres”, “Tieta do Agreste”, “Gabriela, Cravo e Canela” e “Teresa Batista Cansada de Guerra”. A sua obra é uma das mais significativas da moderna ficção brasileira, voltada essencialmente às raízes nacionais, em que estão presentes os problemas e injustiças sociais, o folclore, a política, as crenças, as tradições e a sensualidade do povo brasileiro, além da cultura afro-brasileira, marcada principalmente pela religião (umbanda e candomblé).

Monteiro Lobato, o racista

Monteiro Lobato foi um dos mais influentes escritores brasileiros de todos os tempos. Foi um importante editor de livros inéditos e autor de importantes traduções, ficou popularmente conhecido pelo conjunto educativo de sua obra de livros infantis, que constitui aproximadamente a metade da sua produção literária. A outra metade, consistindo de contos (geralmente sobre temas brasileiros), artigos, críticas, crônicas, prefácios, cartas, um livro sobre a importância do petróleo e do ferro, e um único romance. Seus trabalhos mais famosos são “Reinações de Narizinho” (1931), “Caçadas de Pedrinho” (1933) e “O Picapau Amarelo” (1939).

Em 2010, o CNE determinou que seu livro “Caçadas de Pedrinho”, publicado originalmente em 1933, não fosse mais distribuída às escolas públicas por considerar que ela apresentava conteúdo racista. O livro relata uma aventura da turma do Sítio do Picapau Amarelo à procura de uma onça-pintada. Entre os trechos que justificariam a conclusão de racismo estão alguns em que Tia Nastácia é chamada de negra, e em outra parte: "Tia Nastácia, esquecida dos seus numerosos reumatismos, trepou que nem uma macaca de carvão". Monteiro Lobato era membro da Sociedade Eugênica de São Paulo e amigo pessoal de expoentes da eugenia no Brasil.

“O Presidente Negro”, único romance (e de ficção científica) de Monteiro Lobato, foi escrito e pensado (nas palavras do próprio autor) "como um cartão de visitas ao mercado editorial estadunidense", após Lobato ter sido nomeado adido comercial no consulado brasileiro em Nova York.  O livro retrata a história de Ayrton, desastrado cobrador da empresa Sá, Pato & Cia. que sofre um acidente automobilístico na região de Nova Friburgo, no atual estado do Rio de Janeiro, e é resgatado pelo recluso professor Benson, que o leva para sua residência. Ali, ele trava contato com Miss Jane, a bela e racional filha do cientista, e com a grande invenção de Benson, o "porviroscópio", um dispositivo que permite ver o futuro. Através de Jane, Ayrton é posto a par da disputa pela Casa Branca nos Estados Unidos da América do ano 2228, onde a divisão do eleitorado branco entre homens (que querem reeleger o presidente Kerlog) e mulheres (que pretendem eleger a feminista Evelyn Astor), transforma o candidato negro, Jim Roy, no 88° presidente dos EUA. Como solução, os americanos propõem a esterilização dos indivíduos de raça negra, camuflada num processo de alisamento de cabelos através do uso de raios ômegas.

George dos Santos Pacheco

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