Semana passada tivemos duas notícias tristes e trágicas. Uma foi a
morte do ator Robin Williams, de 63 anos, cujo corpo foi encontrado em
sua casa, na Califórnia. O ator – que estava tendo problemas com a
depressão, apresentava sinais de cortes no pulso e se enforcou com um
cinto – foi premiado com um Oscar por "Gênio indomável" e teve
participações inesquecíveis em filmes como “A Sociedade dos Poetas
Mortos”, “Jumanji”, “Bom Dia Vietnã”, “O Homem Bicentenário” e “Uma
Noite no Museu”, entre tantos outros.
A outra foi a morte – tão precoce e tão trágica quanto a de
Williams – do ex-governador de Pernambuco e presidenciável, Eduardo
Campos (neto do também ex-governador Miguel Arraes) em um acidente
aéreo. O político tinha vinte anos de carreira, foi deputado, Ministro
da Ciência e Tecnologia do governo Lula, e eleito duas vezes governador
de seu Estado.
Trágico e triste.
Mas o que torna trágico essas mortes? Talvez seja o fato de
Williams e Campos serem razoavelmente jovens (levando em consideração a
expectativa de vida na atualidade); pessoas que deixaram seu nome
marcado na carreira a que abraçaram, e que ainda estavam em franca
ascensão.
Talvez.
No primeiro caso, o que poderia ter levado o ator a cometer o
suicídio? Cada um suporta a dor de uma forma, possivelmente outras
pessoas reagiriam aos mesmos problemas de outra maneira, mas ele não
encontrou outra saída e embarcou numa lista célebre e macabra junto com
Getúlio Vargas, Kurt Cobain, Amy Winehouse, Heath Ledger, Chorão e
Champignon.
Diferentemente de Williams, Campos não escolheu a morte, e não
teria embarcado naquele avião se soubesse que ele iria cair. A forma
como ele foi arrancado da vida, em plena campanha pela Presidência da
República causou comoção nacional. Deixou esposa e filhos, fãs,
correligionários... todos, todos foram pegos de surpresa.
E assim, logo após o anúncio de sua morte, choveram declarações
de artistas, intelectuais e políticos, ressaltando sua importância no
cenário político brasileiro, como Eduardo Campos havia sido um bom
homem, em discursos emocionadíssimos. Com Mário Covas foi assim também,
lembram-se? Vejam só como a eternidade pode tornar os homens mais belos:
todos são bons quando morrem. Não, não é deboche. Será que essas
pessoas teriam o mesmo respeito pelo político se ele ainda estivesse
vivo? Não tenho certeza da resposta. Quanto de nossos heróis não se
formou assim? Criticados e perseguidos ao extremo em vida, ganham status
de mito post-mortem. Getúlio, Tiradentes... quantos mais?
Entenda bem, querido leitor, não ponho em xeque o conteúdo das
declarações e homenagens, nem mesmo farei juízo de valor sobre a
qualidade da pessoa e político Eduardo Campos. Pretendo julgar a
sinceridade da lágrima, e o uso que se faz de um evento desses. Diversas
personalidades querendo aparecer bem numa foto em que deveriam estar
somente a família. Entretanto, o sujeito era um homem público, e isso se
torna justificativa para a exposição compulsória da dor.
O luto oficial, por exemplo. Bastava que a presidentA decretasse,
mas diversos órgãos públicos (tribunais, Senado) tomaram a mesma
atitude. Para quê isso? Para aparecer na foto, filho. A morte de Campos
se tornou uma espécie de selfie gigante de políticos fazendo carão e “V”
com os dedos, um ato tão incoerente quanto as fotos da Nana Gouvêa no
cenário do furacão.
Sua saída da disputa presidencial reorganiza completamente o
quadro eleitoral de 2014. A companheira de chapa, Marina Silva, pode se
tornar candidata e adversária de peso (até mesmo com a esposa de Eduardo
como vice), dentre outras opções que o partido tem (ou não), como
apoiar uma ponta ou outra do certame. (E é claro que os presidenciáveis
estão muito interessados na fatia do bolo que era de Campos, que pode,
inclusive, definir essa eleição).
Então, não se engane, querido leitor. Sinceridade está nas
lágrimas da viúva e dos órfãos. Tudo o mais é interesse, é proveito.
Para quem fica resta aprender a viver nesse imenso tabuleiro de xadrez,
reagindo às jogadas dos peões, dos cavalos ou dos bispos, desviando dos
“en passant” e “roque menores”.
Para Eduardo, resta o pesar e o aplauso.
George dos Santos Pacheco
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