Um outro fantasma


“Estou na companhia de fantasmas no quarto” - pensou Gustavo. - Shhh! - sonorizou ele com o dedo à frente da boca, num gesto de pedir silêncio. Talvez quisesse não incomodar os fantasmas, por temer que eles pudessem fazer algo, ou se manifestar diante dele. Mas ela ainda estava ali, e ele não estava nem um pouco confortável com isso.

Gustavo não gosta de fantasmas. Desde pequeno, quando o pai o mandava buscar café na cozinha à noite, ocasião em que tinha a impressão de estar sendo seguido ou vigiado. Então, desatava a cantar ou assobiar, para espantar o medo e já próximo da saída da cozinha, apressava o passo o máximo que podia, sem no entanto, demonstrar que sentia medo, ao seu pai. Além de medroso, era deveras orgulhoso, o que só veio a aumentar durante os anos que se seguiram e à medida que se tornava um adulto. Nada disso adiantou.

Resolveu fazer como antigamente, na época em que ficava feliz em ver os joelhos das atrizes nas novelas das sete horas. Deu um beijo em sua testa suada, e a mulher apenas ronronou como uma gata, mas não despertou. Levantou-se, apagou a luz e fechou a porta.

George dos Santos Pacheco

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